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terça-feira, 6 de outubro de 2009

Saias no cordel



Sou poeta cordelista

Nascida lá no sertão.

Ipueiras é minha terra,

O Ceará é meu rincão.

Adoro ser nordestina.

Levo comigo uma sina,

Amar meu agreste chão.

2

Minha mãe fazia versos,

E gostava de declamar.

Foi professora primaria,

Com ela aprendi a rimar.

Ter gosto pela cultura,

Abraçar a literatura,

E o velho cordel amar.

3

E assim me fiz mulher

Abraçando a poesia.

Meu mundo encantado

Era cheio de magia.

Talvez um pouco irreal.

Mas para mim era ideal,

Pois era o que eu queria.

4

A mulher abriu caminhos,

Difíceis de percorrer.

Pôs os pés na estrada.

Pra demonstrar seu saber.

Foi bem grande sua luta

Mas ficar sempre oculta

Impossível conceber.

5

Durante muito tempo

Fomos só inspiração.

Musa que os poetas,

Traziam no coração.

Sonhávamos ter um dia

Nossa popular poesia

Com farta publicação

6

Não estou insinuando

Que a mulher não atuava.

Ela já fazia seus versos

Apenas não publicava.

Mostrava sua alegria

Nas rodas de cantorias

E aplauso conquistava.

7

Apesar do machismo,

A mulher se aventurou,

Mesmo analfabeta,

Entrou na roda e cantou

Sem ligar pro: ora veja!

Encarando as pelejas

O homem desafiou.

8

No livro “Cantadores”

Pra minha satisfação

Conheci cantadoras.

Uma chamou atenção

Por ser bem animada,

E cheia de presepada,

Zefinha do Chabocão!

9

Pelo Nordeste afora,

Nas rodas de cantoria,

Rita Medeiros cantava,

Chica Barrosa se via.

Até Maria Tebana,

Agia naquelas bandas,

E aplauso garantia.

10

Quando a mulher decidiu,

Por imprimir seu cordel.

Foi nome masculino,

Que ela botou no papel.

Essas pobres criaturas,

Sofriam com a tortura,

Do patriarcado cruel.

11

Mas tudo modificou,

Hoje a coisa é diferente.

O cordel está em festa

E a mulherada presente.

Homem agora é parceiro

Até virou companheiro,

No cordel e no repente.

12

Hoje as cordelistas,

Assumem seu lugar.

Na Bahia, Pernambuco,

Paraíba e Ceará.

O Nordeste brasileiro,

Há muito virou celeiro,

De mulheres a versejar.

13

Pelos cantos do Brasil,

A mulher faz poesia.

Temos em Juazeiro,

A boa Salete Maria.

Que audaz em sua meta,

Tem postura correta,

E desbanca hipocrisias.

14

Na Paraíba temos,

Nelcimá de Morais.

Mestra e cordelista.

É engajada demais.

Pesquisando o cordel,

A mulher e seu papel,

Em tempos medievais.

15

Já Josenir Lacerda,

Com Bastinha, é fato,

As duas são pioneiras

Da academia de Crato.

Trazem com devoção

O cordel no coração,

Dando a ele bom trato.

16

Tem Maísa Miranda,

É safra lá da Bahia.

Temos Ilza Bezerra

Recebendo honrarias.

O cordel está crescendo

Mulheres aparecendo,

Sa1ve os novos dias.

17

Muitas mulheres agem

Neste mundo do cordel.

Ativas e anônimas

Respeito cada papel.

Mas pra falar a verdade,

A minha felicidade

É vê-las rasgando o véu.

18

Pesquisadores buscam,

Nossa arte revelar

Cordel de boca em boca.

Chega a todo lugar.

Agora com a internet

Esta obra do Nordeste.

Ficará mais popular.

19

Eu sempre fui inquieta

E cheia das novidades.

Enxerida como que!

Para falar a verdade.

Amasiada com cordel,

Faço dele meu corcel,

E minha felicidade.

20

Sou Dalinha Catunda,

Não foi minha intenção,

Sobre o cordel feminino,

Fazer vasta explanação.

Só um parco recado:

Que se abra o mercado

Para nossa produção.


Dalinha Catunda


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1 comentários:

Dalinha Catunda disse...

Olá Nelcimá,
Obrigada por postar meu cordel em seu blog, também já postei no meu.

É sempre um grande prazer essa comunicação com você.
Um abraço,
dalinha