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quarta-feira, 24 de março de 2010

A poesia popular e a Demanda do Santo Graal

A Demanda do Santo Graal, possivelmente, uma das mais famosas e populares das novelas de cavalaria, originárias da Inglaterra e da França, é, provavelmente, um manuscrito do século XII. Chrétien de Troyes, que fazia sucesso na corte francesa, escreveu cinco romances sobre os personagens da Távola Redonda e o seu último trabalho teria sido: O Conto do Graal. O autor morreu antes de concluí-lo. Robert de Boron, no final do século XII, desenvolveu o tema Cálice Sagrado, a partir do romance inacabado de Chrétien, ligando-o à tradição arturiana. Uma lenda que, inicialmente foi glosada em versos e pertencia às canções de gesta francesas - poemas medievais cantados em linguagem popular – narrava os feitos heróicos dos reis e de seus cavaleiros e apresentava Percival como cavaleiro que "daria fim à Demanda do Graal".

Essas canções, de caráter noticioso, narravam de perto o acontecido, tendo como predominante o cavaleiro medieval que está diretamente incluído no combate em defesa da Europa Ocidental, sempre instigando a fé cristã e obtendo a aprovação da população em favor do movimento. Por volta de 1220, na França, o tema é colocado em novela e essa lenda, que antes era pagã situa-se como cristianizada; e é transformada em novela de cavalaria, mística e simbólica. Os cavaleiros passavam por situações perigosíssimas para defender o bem e o mal. Percival, anteriormente o escolhido, é substituído pelo cavaleiro Galaaz na busca pelo Santo Graal, transformando alguns símbolos, dentre eles: o Vaso e a Espada, em objetos de valor místico. Em estudos anteriores, verificamos que inúmeras traduções foram feitas para outras línguas, além do latim, francês e inglês, e cada país europeu somou suas próprias lendas às aventuras do Rei Artur e seus cavaleiros.

O tema, estudado, é bastante utilizado nos escritos da literatura e cobiçado entre os críticos literários. Por ser bastante complexo, deixa asas para uma vasta interpretação. Beliza (2001:145) encontra na Demanda do Santo Graal brechas para enfocar a presença feminina no universo cavaleiresco, quando observa que “a mulher representa a passagem para a atividade do cavaleiro como herói combatente e, assim, introduzi-lo a uma das mais relevantes ordens da sociedade medieval: a ordem do terceiro estado”. Ela ainda faz o seguinte comentário: A demanda é a busca da experiência humana com o Feminino enquanto vaso procriador da vida. Buscá-lo, demandá-lo é procurar a nutrição: “abastecer tôdalas mesas [ com o ] manjar “Característica do estágio matricial, o Grande Feminino, representado pelas oposições da vida e da morte, de Eva e da Virgem Maria [...]


Aos olhos de Zilma, escritora paraibana, poetisa e cordelista, a Demanda do Santo Graal é um texto, exclusivamente, de cunho religioso, onde a autora enfatiza com grande exaltação o herói Galaaz na busca pelo Cálice Sagrado – o cálice que Jesus usava na santa ceia.

Não tinha ouro nem prata
O penhor da Caridade
O Cálice da Aliança
Relíquia da Cristandade!
A taça que guarda o sangue
Que salvou a humanidade.


Os cavaleiros, na sua maioria, eram homens voltados para a comunhão, onde apenas um deles, Galaaz, obteve a sua realização. Jovem reconhecido como o "puro dos puros", o próprio Messias, simboliza um novo Cristo, atingindo o fim almejado depois de inúmeras aventuras – algumas relatadas no desfecho do cordel de Zilma Ferreira Pinto - que põem à prova todas as suas virtudes.

Tinha o porte de um Apolo
O rosto de um querubim
A força dos santos mártires
E a proteção de Merlim
Galaaz é o seu nome
E o Santo Graal o seu fim.

( Texto apresentado por mim no 1º Seminário Estadual de Estudos Medievais na UFPB)

Um cordel feminino em Santa Luzia

Em pesquisa realizada na cidade de Santa Luzia do Sabugi-PB, em 2007, deparei-me com um cordel da autoria de Judith Jovithe das Neves, natural daquela cidade, que morreu na década de quarenta e deixou um cordel intitulado “A Morte da Inditosa Maria barbaramente assassinada por Lino Goiaba”, poema composto de 85 estrofes de sextilhas com redondilha maior. Este considerado um importante registro, narração de um acontecimento trágico, onde a autora usa a criatividade de um bom repórter jornalístico, sem deixar a cadência da poesia popular, utilizando na sua forma de escrita o popular e o erudito. Segundo a família da poetisa e a irmã da jovem assassinada, da qual trata o poema, a senhora Luzia Araújo dos Santos, que entrevistei no dia 21 de junho de 2008, na cidade de Santa Luzia, o poema foi escrito mais ou menos em 1937, ano em que ocorreu o crime e que a autora estaria na época com uns quinze anos. Seria Judith Jovithe das Neves a primeira cordelista? Vejamos as 1ª e 2ª estrofes do poema acima citado, composto de 85 estrofes de sextilhas que se encontra no Museu Cultural de Santa Luzia:



Leitor ouvi fervoroso
Esta minha narração
Quero contar uma história
Que faz cortar coração
De um crime que um bandido
Fez bem aqui no sertão.


Foi no Riacho da Serra
Este quadro doloroso
Nunca aqui aconteceu
Um crime tão horroroso
Parece que este homem era
Um bárbaro vil criminoso.


Foram raras as mulheres que enfrentaram preconceitos e discriminações e, em forma de gotículas, se aventuraram num mundo exclusivamente masculino e apresentaram a grandiosidade de seus versos desafiando os acordes da realidade. Muitas mantinham ou ainda mantêm os seus louros em manuscrito. Também existem aquelas poetisas que se especializam em fazer versos para serem transformados em grandes hinos políticos: aqui representadas por Rumana de Santa Luzia-PB , que é bastante convidada para compor músicas, utilizando o cordel em benefício dos políticos, não só de sua cidade como também do vale do Sabugi. Também a sua irmã Clarice, que com mais de setenta anos ainda guarda na memória versos que foram utilizados para discursos, feitos pela autora, que segundo seus conterrâneos nunca foi reconhecida como poeta popular, apenas beneficiou os políticos daquela região, seus improvisos impressionam quem a escuta. Francisquinha Medeiros, outra sertaneja, seus cadernos são recheados de poemas que narram a vida de seus familiares; faz questão de registrar a história de cada propriedade pertencente a cada membro de sua família.

















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