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quarta-feira, 24 de março de 2010

Um cordel feminino em Santa Luzia

Em pesquisa realizada na cidade de Santa Luzia do Sabugi-PB, em 2007, deparei-me com um cordel da autoria de Judith Jovithe das Neves, natural daquela cidade, que morreu na década de quarenta e deixou um cordel intitulado “A Morte da Inditosa Maria barbaramente assassinada por Lino Goiaba”, poema composto de 85 estrofes de sextilhas com redondilha maior. Este considerado um importante registro, narração de um acontecimento trágico, onde a autora usa a criatividade de um bom repórter jornalístico, sem deixar a cadência da poesia popular, utilizando na sua forma de escrita o popular e o erudito. Segundo a família da poetisa e a irmã da jovem assassinada, da qual trata o poema, a senhora Luzia Araújo dos Santos, que entrevistei no dia 21 de junho de 2008, na cidade de Santa Luzia, o poema foi escrito mais ou menos em 1937, ano em que ocorreu o crime e que a autora estaria na época com uns quinze anos. Seria Judith Jovithe das Neves a primeira cordelista? Vejamos as 1ª e 2ª estrofes do poema acima citado, composto de 85 estrofes de sextilhas que se encontra no Museu Cultural de Santa Luzia:



Leitor ouvi fervoroso
Esta minha narração
Quero contar uma história
Que faz cortar coração
De um crime que um bandido
Fez bem aqui no sertão.


Foi no Riacho da Serra
Este quadro doloroso
Nunca aqui aconteceu
Um crime tão horroroso
Parece que este homem era
Um bárbaro vil criminoso.


Foram raras as mulheres que enfrentaram preconceitos e discriminações e, em forma de gotículas, se aventuraram num mundo exclusivamente masculino e apresentaram a grandiosidade de seus versos desafiando os acordes da realidade. Muitas mantinham ou ainda mantêm os seus louros em manuscrito. Também existem aquelas poetisas que se especializam em fazer versos para serem transformados em grandes hinos políticos: aqui representadas por Rumana de Santa Luzia-PB , que é bastante convidada para compor músicas, utilizando o cordel em benefício dos políticos, não só de sua cidade como também do vale do Sabugi. Também a sua irmã Clarice, que com mais de setenta anos ainda guarda na memória versos que foram utilizados para discursos, feitos pela autora, que segundo seus conterrâneos nunca foi reconhecida como poeta popular, apenas beneficiou os políticos daquela região, seus improvisos impressionam quem a escuta. Francisquinha Medeiros, outra sertaneja, seus cadernos são recheados de poemas que narram a vida de seus familiares; faz questão de registrar a história de cada propriedade pertencente a cada membro de sua família.

















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